sexta-feira, 29 de abril de 2016

A parabóla das varas

A parábola das varas
                            B. M. Curvo Semedo  (Seleta em prosa e verso)
Um velho sábio e prudente,
Vendo-se vizinho da morte,
Chama três filhos que tem,
E fala-lhes desta sorte:

“Eia, vêde, amados filhos
Se quebrais, pois por força ou jeito
Este emblema ;  e tira um molho
De varas de vime feito.

Ao filho mais velho o dá,
Que se propões parti-lo
Mas, por força que emprega
Nunca pode consegui-lo

Pega-lhe o filho segundo,
Destro e valente rapaz,
Que parti-lo não consegue,
Por mais esforços que faz.

Entregam-no ao mais pequeno
Que blasona de mui forte.
Torce-o dobra, cora e sua,
E deixa-o da mesma sorte.

Fracos moços!  Diz o pai,
Vossa fraqueza celebro!
Vêde como desta idade
Essas varas todas quebro.

Depois desatando o molho,
Pronto as varas dividindo,
Com toda a facilidade
Uma a uma as vai quebrando

E diz “Vede neste exemplo,
Filhos de meu coração
Os desastres da discórdia
E as vantagens da união.

Partir não podeis, ò moços
As varas estando unidas
Mas, depois de separadas
São fracas mão partidas

Se unidas vos conservardes,
Assim, ó filhos sereis
E as baldãos ímpios da sorte
Sem custo resistireis:

Mas, se algum dia a desgraça
Vos chegar a desunir,


 Qualquer de vós aos seus golpes
Não poderá resistir.”

Assim o velho proclama
Esta brilhante doutrina,
E no fim de pouco tempo
Sua carreira termina.

Os filhos choram-lhe a morte
Com lamentos deploráveis
Porem lembram-se mui pouco
De seus conselhos saudáveis.

Porque danoso interesse
Em partilha os envolve,
Um credor, outro credor
Os bens paternos dissolve.

Depois, vomitando injúrias,
Uns contra os outros litigam;
E os ministros com prisões
E com multas os castigam

Pobres por fim, noite e dias
Com prantos e queixas amaras,
Recordam, mas sem remédios,
O sábio exemplo das varas.

A União faz a força
                                      Tradução da seleta prosa e verso Alfredo Clemente Pinto 50 ed
Um velho, achando-se as portas da morte , em torno a si congregou seus três filhos, e, apresentado um feixe de varas, disse-lhes:
“Vede se podeis quebrar estas varas assim unidas como se acham. Depois explicar-vos-ei o que  com isso pretendo ensinar-vos”.
O mais velho dos irmãos tomou o molho de varas, e depois de empregar em vão toda a sua força largou-o, assegurando não haver quem o pudesse quebrar.
A todos resistiu o feixe de varas,  sem que uma só estalasse. “Gente fraca” disse o velho, “a-pesar-da minha velhice e de estar já para morrer, vou mostrar-vos quando mais forte do que vos ainda sou”.
Ouvindo estas palavras, creram os moços que seu pai gracejava e se puseram a rir.
Então desatou o velho aquele feixe de varas e sem custo as foi quebrando uma por um.
Nisto que acabais de ver, considerai, meus filhos, os efeitos da concórdia e da união.
Sede, pois, sempre e muitos unidos, caros filhos, amai-vos estremecidamente uns aos outros, que fortes e felizes havereis de ser.”
E, dequele dia por diante, quase em outra coisa não  falou o velho até morrer. Nos bons resultados da união e do amor iam sempre dar as suas conversas.
E, quando sentiu chegada a sua hora final, chamou d novo seus filhos, e lhes falou deste modo:
Queridos filhos, é tempo de deixa-vos! Eu vou reunir-me aos meus antepassados. Recebei a minha benção. Adeus!
“Mas antes que eu morra, prometeram, senão que juraram cumprir os desejos de seu pai.
Então com o semblante radioso de consolação, aquele sábio velho os abençoou  novamente e expirou.
Herança muito considerável, mas cheia de complicação, coube àqueles irmãos, pelos que tiveram de sustentar várias demandas das quais sempre saíram-se vantajosamente, enquanto amigos e unidos.
Mas quão pouco durou aquela união!
O sangue e os conselhos do velho bom pai os inham unidos:  os interesses e a ambição os desuniram.
Chegada a ocasião da partilha e querendo cada um ser mais bem aquinhoado, desuniram-se, e, mais do que isto, inimizaram-se.
E começaram  eles próprios a demandar um contra os outros.
Também novos credores apareceram, que daquela desunião se aproveitaram.
Grande foi então o desconcerto! Um queria acomodar-se e os outros não; e por fim de contas, em pobreza caíram todos, lembrando-se afinal, porém já tarde da sábia lição que com aquele feixe de varas lhes havia dado seu pai.



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