De onde vêm algumas expressões populares
Vejam algumas expressões curiosas da linguagem que circulam até hoje entre nós e que marcam a riqueza histórica de nossa língua.
Algumas dessas matérias foram resgatadas de revistas especializadas como LÍNGUA PORTUGUESA – Ed. SEGMENTO e AVENTURAS NA HISTÓRIA - Ed. Abril . Continuaremos somando complementos a esse artigo sempre atribuindo os devidos créditos aos autores e aos veículos que fizeram as publicações otiginais. ( Prof. Nélson Sartori)
1. “Sangue nos olhos”
Quanto mais vontade de vencer, melhor o termo é usado para caracterizar pessoas que são destemidas, amam desafios e encaram os obstáculos com uma gana incondicional de superá-Ios. De acordo com Luís da Câmara Cascudo em Locuções Tradicionais do Brasil, um dos primeiros brasileiros notórios a ostentar o atributo foi dom Pedro I - em Portugal, dom João lI. A origem da expressão também chegou ao país vinda de terras portuguesas. "Tanto valia ser godo e neto dos antigos conquistadores como ter os olhos abrasados", escreveu o autor João Ribeiro. A diferença é que em Portugal o termo era usado em sinal de fidalguia. No Brasil, no entanto, ele denuncia homens audaciosos e corajosos. CAROLINA SILVA. (AVENTURAS NA HISTÓRIA - Ed. Abril)
2. “Amarrar o bode”
Depois de preso, o bicho fica arisco e perigoso
Quando dizemos que alguém amarrou o bode é porque a pessoa está de cara amarrada, mal-humorada, ranzinza e muito irritada. A origem da expressão deriva do próprio comportamento do animal que dá nome à expressão. Normalmente criados em liberdade perambulando pelo pasto, quando amarrados, os bodes se tornam impacientes e rebeldes e dão início a um verdadeiro berreiro. A expressão é usada, então, para indicar a insatisfação de alguém perante determinada situação. Mas o termo pode ainda ser usado para indicar o fim da liberdade (amorosa), no momento em que um casal resolve assumir um relacionamento sério. C. S. (AVENTURAS NA HISTÓRIA - Ed. Abril)
3. “Sangria desatada”
No século 16, era sangue para todo lado
Ainda antes de Hipócrates, durante o século 5 a.C., os médicos tinham o costume de sangrar o paciente para expelir os agentes da doença que o acometia. Mas, às vezes, a prática saía pela culatra e o doente embalava num sangramento que podia o levar à morte. Essa hemorragia, também conhecida como fleborrexis, ainda era praticada no século 16. "É verdade que há pouco roguei em uma carta que não sangrasse mais!", escreveu a madre Maria Bautista à priora de Valladolid, na Espanha. Esse sangramento descontrolado exige cuidados rápidos e eficientes. Assim, quando dizemos que alguma coisa não é uma "sangria desatada", estamos querendo dizer que ela não precisa ser resolvida com urgência desmedida. JOANA SANTOS. (AVENTURAS NA HISTÓRIA - Ed. Abril)
4. “Mundos e fundos”
Expressão surgiu das navegações espanholas
Quando se diz que alguém prometeu "mundos e fundos", é porque essa pessoa fez promessas infundadas ou exageradas. A origem da expressão remonta às navegações espanholas. Segundo uma antiga promessa que rogava "O Céu pediu estrelas/ O peixe pediu fundura", os aventureiros tinham uma impressão abissal do mar. Para eles, a noção de mundo e da fundura do oceano era algo recorrente e trivial no dia a dia - daí o termo com os dois exageros. Reafirma sobre mundo, o escritor José Alcântara: "Boca do mundo é uma expressão típica da multidão anônima". J. S. (AVENTURAS NA HISTÓRIA - Ed. Abril)
5. “Gato por lebre”
Até Camões caía nesse tipo de golpe
Levar gato por lebre é ser enganado, levar algo sem valor acreditando ser bem mais caro. A expressão teve origem em Portugal, onde o "churrasquinho de gato" era bem mais apreciado do que por aqui. Os lusitanos gostavam tanto da carne do pobre bichano que, no século 19, a caçada aos gatos para fins culinários virou moda entre os estudantes de Coimbra.
Como a carne do felino era mais barata, algumas estalagens de Portugal e da Espanha serviam gato como se fosse lebre. Era uma prática tão comum que Luís de Camões, no Auto dos Enfatriões, escreveu: "Fantasia de donzela / não há quem como eu as quebre / porque certo cuidam elas / que com palavrinhas belas / nos vendem gato por lebre." LíVIA LOMBARDO. (AVENTURAS NA HISTÓRIA - Ed. Abril)
6. “Preto no branco”
Expressão teve origem em outra, mais antiga
Colocar o preto no branco é registrar, por escrito, uma promessa ou acordo para que depois não se corra o risco de ficar o dito pelo não dito. De acordo com o folclorista brasileiro Luís da Câmara Cascudo, essa expressão teria surgido no Brasil do século 19 como substituta para uma outra, bem mais antiga, datada da segunda metade do século 9: cum cornu et cum alvende. Cornu significava tinteiro e alvende era o alvará, o decreto. Assim, a frase em latim faz referência a um decreto ou documento escrito e assinado. Na versão posterior e abrasileirada da expressão, preto significaria a tinta e branco, o papel. L.L. (AVENTURAS NA HISTÓRIA - Ed. Abril)
7. “Ir para a cucuia”
Cemitério é uma das origens da expressão
Quando alguma coisa termina mal, dizemos que "foi para a cucuia". Existem duas versões diferentes para explicar a origem desta expressão. A mais aceita refere-se ao antigo cemitério da Cacuia, localizado na Ilha do Governador, no Rio de Janeiro. O local foi inaugurado em janeiro de 1904 e, desde então, "ir para a Cacuia" tornou-se sinônimo de "bater as botas". Aos poucos, no entanto, a expressão foi se generalizando e passou-se a utilizá-Ia também para se referir a outras situações com finais nada felizes.
A outra explicação para o ditado vem do tupi. Na língua indígena, kui significa cair, ir para a decadência. A duplicação de kui teria resultado em kukui, que, por sua vez, deu em cucuia. LÍVIA LOMBARDO. (AVENTURAS NA HISTÓRIA - Ed. Abril)
8. “Torcer a orelha”
Frase teve origem com a deusa da memória
"Torcer a orelha" é o mesmo que arrepender-se, lastimar-se por não ter feito algo que poderia trazer bons resultados. A origem da expressão remota a Mnemosine, a deusa da memória. Segundo a mitologia, ela era a responsável por impedir o esquecimento das pessoas - e a orelha era o órgão dedicado a essa deusa grega. Assim, torcer as orelhas era uma forma de estimular a memória e garantir que erros cometidos não fossem esquecidos. O gesto acabou virando um ato de autopunição. A expressão foi registrada pela primeira vez em 1533, na obra Romagem de Agravados, de Gil Vicente: "Nunca o nosso agravo fora, / Nem eu torcera a orelha”. L.L. (AVENTURAS NA HISTÓRIA - Ed. Abril)
9. “Dar uma banana”
Gesto vulgar reflete desabafo ou ofensa
O ato de erguer o punho direito cerrado com força, apontando o cotovelo de um jeito meio brusco, tem sido cada vez mais preterido em favor dos pesados palavrões usados no dia a dia. Acredita-se que a expressão "dar uma banana" não só surgiu depois, como foi inspirada no gesto ofensivo e vulgar. O acréscimo da fruta (com conotação fálica), no entanto, aconteceu apenas em território brasileiro. Em Portugal, sua terra natal, o gesto é acompanhado de diferentes expressões: "fazer as armas de santo Antônio", "manguito" ou "dar manguito" - no país europeu, a referência às armas da Ordem Terceira de São Francisco, em que figuravam dois braços cruzados, tem a mesma intenção de xingamento. EDUARDO LUCENA. (AVENTURAS NA HISTÓRIA - Ed. Abril)
10. “Do arco da velha”
Origem da expressão está ligada ao arco-íris
Usada para designar histórias inacreditáveis, fora do comum, absurdas ou muito antigas e em desuso, a expressão tem origem nas páginas do Antigo Testamento. O termo se refere ao arco-íris que surgiu no céu após o grande dilúvio contado pela Bíblia. O arco de sete cores simbolizava a aliança entre Deus e os homens, representados por Noé. Mas, crítica a um acontecimento fantasioso ou distante da realidade, a alcunha foi criada também com base em ilustrações medievais que mostravam velhas senhoras (possivelmente bruxas) ao lado de arco-íris. O termo velha surge, então, como uma tradução das forças adversárias da normalidade, que aparecem ligadas à bruxaria e aos malefícios à fecundidade vegetal e animal. E. L. (AVENTURAS NA HISTÓRIA - Ed. Abril)
11. “Fazer de gato-sapato”
Expressão pode ter surgido de uma brincadeira
Quando alguém é tratado com desprezo, dizemos que a pessoa foi feita de gato-sapato. A origem mais provável para a alcunha está em um jogo antigo conhecido como gato-sapato. Na brincadeira, uma criança de olhos vendados tinha de agarrar um colega. Enquanto tentava, outras crianças batiam nela com sapatos. Daí a expressão "fazer de gato-sapato".
Já o escritor Marcelo Duarte aponta outra possível origem para a expressão. Segundo ele, tudo poderia ter começado numa época em que era moda abreviar palavras. Sapato, que se escrevia com "ç", era reduzido para "çato". Dependendo da letra de quem escrevia ou da atenção de quem lia, "çato" poderia ser facilmente confundido com "gato". LÌVIA LOMBARDO. (AVENTURAS NA HISTÓRIA - Ed. Abril)
12. “Engolir sapo”
Só brasileiros "engolem" o anfíbio
A expressão engolir sapo, usada quando somos obrigados a tolerar coisas desagradáveis sem podermos responder, é um regionalismo típico do Brasil. Mas por que engolir sapo e não cobra, borboleta ou jacaré? De acordo com Luís da Câmara Cascudo, em Dicionário do Folclore Brasileiro, o sapo é indispensável nas bruxarias. Acreditava-se ainda que existia uma pedra na cabeça dos anfíbios eficaz nos sortilégios. Ou seja, além de gosmento, os bichos eram associados às forças ocultas.
Há também um episódio bíblico que conta que Deus castigou um faraó egípcio enviando um enxame de rãs, que invadiram casas e fornos. L.L. (AVENTURAS NA HISTÓRIA - Ed. Abril)
13. “Perder as estribeiras”
Expressão surgiu nos jogos de cavalaria
Quando uma pessoa se descontrola ou fica momentaneamente desatinada, dizemos que ela "perdeu as estribeiras". A origem dessa expressão está nos jogos europeus de cavalaria dos séculos 15 a 17. Literalmente, perder as estribeiras significava ficar sem contato com os estribos, aros que pendem de cada lado da sela do cavalo e são utilizados como ponto de apoio para o pé do cavaleiro.
Nas antigas corridas de argolinhas, torneios em que os cavaleiros a galope precisam atingir com a ponta de uma lança as argolas penduradas em fios, perder as estribeiras desclassificava automaticamente os cavaleiros do páreo. Já nas corridas de cavalos sertanejas do Brasil, quem cometesse esse erro era zombado e tinha que pagar a bebida dos companheiros como castigo. LÍVIA LOMBARDO. (AVENTURAS NA HISTÓRIA - Ed. Abril)
14. “Da pá virada”
Era assim que se falava de uma pessoa desocupada
Atualmente, a expressão "da pá virada" pode ser usada com vários significados bem diferentes. Ela serve, por exemplo, para qualificar uma criança travessa e inquieta. Também se fala assim de pessoas de má índole e que são criadoras de casos. Além disso, a frase ainda pode servir para elogiar indivíduos corajosos e competentes.
Em sua origem, porém, essa frase tinha um único significado. Uma pá de pedreiro virada, voltada para o solo, é um instrumento inútil, sem nenhuma serventia. Assim, a construção verbal era utilizada para designar indivíduos vadios, sem ocupação, que não trabalhavam e, da mesma maneira que uma pá virada, não serviam para nada. De acordo com o historiador Luís da Câmara Cascudo (1898-1986), a expressão é brasileira, e provavelmente surgiu no século 19. L.L. (AVENTURAS NA HISTÓRIA - Ed. Abril)
15.“Quebrar o galho”
Duas histórias explicam a origem da expressão
Quando alguém nos ajuda a resolver um problema, dizemos que essa pessoa nos "quebrou um galho". Existem duas versões diferentes para explicar a origem desse regionalismo tão usado no Brasil. Um dos significados da palavra galho é "conjunto de riachos que se reúnem para formar um rio". Assim, para os viajantes, "quebrar um galho" significa abrir um caminho em um afluente de rio para desembocar de forma mais rápida no rio principal.
A segunda versão está ligada a Exu Quebra-Galho, entidade da umbanda que, acredita-se, exerce forte domínio sobre as mulheres. Exu é procurado por muitos homens para "quebrar galhos" amorosos com trabalhos de amarração. LÌVIA LOMBARDO. (AVENTURAS NA HISTÓRIA - Ed. Abril)
16. “De ara que”
Insulto está ligado a bebida alcoólica árabe
Uma coisa "de araque" é sem valor ou de mentira. A origem desse insulto está em uma bebida chamada "arak", trazida ao Brasil por imigrantes árabes de origem não-muçulmana. Trata-se de um licor de alto teor alcoólico, que, puro, pode chegar a 80% de álcool. Em geral, ele é diluído em água.
Por ser muito forte, o drinque é capaz de provocar grandes bebedeiras em pessoas não acostumadas. AIcoolizadas, elas começam a falar besteiras. Daí o surgimento da expressão pejorativa "de araque" para se referir a algo que é tão desacreditado quanto uma pessoa de porre. L.L. (AVENTURAS NA HISTÓRIA - Ed. Abril)
17. “ Olha o passarinho”
Ave na gaiola deixava criançada imóvel na hora da foto
Quando a fotografia foi inventada, a impressão da imagem no filme não se dava rapidinho como hoje. Ver a foto numa telinha digital segundos após ela ser tirada, podendo apagá-Ia e fazer de novo se alguém piscou, tampouco passava pela cabeça dos fotógrafos. Por isso posar era um processo bastante lento.
Na metade do século 19, os fotografados tinham de permanecer parados por até 15 minutos a fim de que sua imagem fosse impressa dentro da máquina. E fazer as crianças ficarem imóveis por tanto tempo era um verdadeiro desafio. Por isso, gaiolas com pássaros ficavam penduradas atrás dos fotógrafos e chamavam a atenção dos pequenos, tornando mais fácil a brincadeira. Assim, a expressão "olha o passarinho" ficou conhecida como a frase dita pelo fotógrafo na hora da pose. A.L. (AVENTURAS NA HISTÓRIA - Ed. Abril)
18. “As paredes têm ouvidos”
Expressão se originou de um antigo provérbio persa
Tanto ocidentais quanto orientais concordam com a expressão que alerta para os perigos de sermos escutados sem saber. O dito existe, nessa mesma forma, em línguas como alemão, francês e chinês. Sua origem remonta a um antigo provérbio persa que dizia: "As paredes têm ratos, e ratos têm ouvidos".
Um dos primeiros registros de provérbio semelhante em inglês aparece no clássico medieval The Canterbury Tales, escrito por Geoffrey Saucer entre 1387 e 1400. Saucer descreve algo como "aquele campo tinha olhos, e a madeira tinha ouvidos" em um dos contos.
A expressão ganhou um sentido quase literal, que pode ser testemunhado até hoje em castelos medievais e, principalmente, palácios renascentistas. Muitos deles - como o Palácio dos Doges, em Veneza, Itália escondem dutos e aberturas pelas paredes, construídas na época para possibilitar a audição, em outras salas, de encontros políticos a portas fechadas. ADRIANA LUI. (AVENTURAS NA HISTÓRIA - Ed. Abril)
19. “Dar uma canja”
Iniciais do Clube dos Amigos do Jazz originaram o dito
Nos anos 60, o Clube dos Amigos do Jazz, entidade brasileira formada por fãs do gênero, era conhecido pela sigla Canja. Um dos costumes dos membros do clube era deixar seus instrumentos à disposição. Assim, os freqüentadores do local podiam se aventurar em apresentações de improviso. De "tocar no Canja” para "dar uma canja" foi um pulo - e hoje todo músico que participa, de graça, de uma apresentação não planejada está "dando uma canja.
Corre entre músicos outra história para explicar a expressão: ela teria vindo da famosa distribuição de sopa feita aos mais pobres aqui no Brasil. Assim como o prato era distribuído gratuitamente, os artistas que não recebiam para subir ao palco estavam "dando uma canja”. A.L. (AVENTURAS NA HISTÓRIA - Ed. Abril)
20. " Fazer o diabo a quatro”
Dizemos que fulano "fez o diabo a quatro" numa festa, por exemplo, quando queremos dizer que ele fez algo inacreditável ou uma grande bagunça. De acordo com Reinaldo Pimenta, autor do livro A Casa da Mãe Joana, que explica a origem de palavras e expressões, esta nasceu na França (o original é fàire le diable à quatre) durante a Idade Média.
Nas peças de teatro daquela época, um dos personagens que sempre aparecia era o diabo. Quando o autor das representações queria fazer algum barulho, criava papéis para um ou dois diabos. Quando a idéia era causar espanto realmente, fazer uma verdadeira bagunça na peça, escalava quatro diabos. "Daí o 'diabo a quatro' significar coisas espantosas, grande confusão", escreve Pimenta. CLÁUDIA DE CASTRO LIMA. (AVENTURAS NA HISTÓRIA - Ed. Abril)
21. “Estar na pindaíba”
Liso, na pior, sem um tostão furado. Estar ou andar na pindaíba é não ter dinheiro nem para õ essencial, passar por uma fase de grande penúria financeira.
Há pelo menos três explicações para a origem da frase. Uma delas é do lingüista Batista Caetano, autor de Vocabulário. Segundo ele, pindaíba é uma palavra de origem tupi que significa "vara de anzol" (pinda é anzol e iba, vara). Estar na pindaíba era dispor apenas de uma vara para a sobrevivência.
A outra versão, também de origem tupi, é do filólogo João Ribeiro, em A Língua Nacional: pindaíba era uma selva densa de cipós onde, às vezes, os índios ficavam presos - ou seja, em grande dificuldade. A terceira explicação, por fim, é de Nei Lopes, estudioso de línguas africanas. De acordo com ele, a frase se incorporou ao português pela língua quimbundo, falada em Angola. Pindaíba viria de uma junção de mbinda, "miséria", e uaíba, "feia" - e significaria estar na mais completa miséria. BRUNO COSTA. (AVENTURAS NA HISTÓRIA - Ed. Abril)
22. “Vale quanto pesa”
Duas origens são aceitas - uma delas é brasileira
A expressão significa dar valor a algo por meio de seu peso e substância. "Quer dizer que você não está pagando mais do que uma coisa de fato vale, nem um centavo a mais por grama inexistente", afirma Reinaldo Pimenta, autor de A Casa da Mãe Joana, livro que desvenda a origem de expressões.
Há duas origens para ela. Uma remonta a uma lei medieval de povos do norte da Europa, que determinava que o assassino deveria pagar uma quantia em ouro ou prata à família do morto, calculada sobre o peso do falecido. A outra versão é bem brasileira: na época do comércio de escravos, os homens ganhavam valor proporcional à idade e ao peso, características relacionadas à sua força. Por isso, nos mercados de escravos, havia balanças próprias disponíveis para aferir os quilogramas da "mercadoria”. ADRIANA LUI. (AVENTURAS NA HISTÓRIA - Ed. Abril)
23. “ Fazer uma vaquinha”
Expressão está relacionada ao futebol e ao jogo do bicho
O ato de juntar algumas pessoas para coletar um dinheirinho passou a ser conhecido como "fazer uma vaquinha' no século 20 por causa do futebol. Nas décadas de 20 e 30, quase nenhum jogador de futebol ganhava salário - luxo só garantido aos atletas do Vasco da Gama.
Nesses tempos bicudos, muitas vezes a própria torcida reunia-se a fim de arrecadar, entre si, um "prêmio" para agraciar os craques. A grana era paga de acordo com o resultado obtido em campo. Os valores dessas "bolsas" associavam-se aos números do jogo do bicho, loteria criada nos fins do Império. Se arrecadassem 5 mil-réis, por exemplo, chamavam o prêmio de "um cachorro", já que 5 é o número do cachorro no jogo. Dez - mil réis eram "um coelho". Quinze mil-réis, "um jacaré". Vinte mil, "um peru". Vinte e cinco mil, o prêmio máximo, era chamado de "uma vaca". Nascia a expressão "fazer uma vaquinha". A.L. (AVENTURAS NA HISTÓRIA - Ed. Abril)
24. “Rodar a baiana”
Quando alguém ameaça com um "pare com isso ou eu vou rodar a baiana", qual quer pessoa discreta pára na hora ou, pelo menos, toma cuidado. A ameaça, na verdade, consiste em dar um escândalo público.
Diferentemente do que possa parecer, essa expressão não tem sua origem relacionada à Bahia, e sim ao Rio de Janeiro. A região era palco, já no início do século 20, de famosos desfiles dos blocos de Carnaval.
No meio desses blocos, alguns espertinhos tascavam beliscões nas nádegas das moças que desfilavam. Para acabar com o problema, alguns capoeiristas passaram a se fantasiar de baianas, com direito a saia rodada e turbante na cabeça. Assim, ao primeiro sinal de desrespeito, aplicavam um golpe de capoeira. As pessoas que assistiam aos desfiles não entendiam nada: só viam a baiana rodar - e começar toda a confusão.. LÍVIA LOMBARDO. (AVENTURAS NA HISTÓRIA - Ed. Abril)
25. “Cabra da peste”
Empregada para designar um indivíduo bom, confiável e, principalmente, corajoso, essa locução tipicamente nordestina em nada tem a ver com a coitada da fêmea do bode. Cabra, no Nordeste brasileiro, é sinônimo de homem.
Assim, é comum na região expressões como "cabra bom", para se referir a alguém decente, ou "cabra besta", para alguém considerado um orgulhoso sem razão.
Mas por que "da peste"? A razão é que epidemias eram um mal muito comum na região no começo do século 20 e, com a falta de recursos da população, tornavam-se muito perigosas e levavam à morte.
Dessa forma, quando alguém ficava doente, todos se afastavam com medo de serem contaminados pelo "cabra da peste". A expressão acabou, mais tarde, tornando-se sinônimo de alguém que, por sua valentia, causa medo nas pessoas, a ponto de afastá-Ias. LL. (AVENTURAS NA HISTÓRIA - Ed. Abril)
26. “Cor de burro quando foge”
Frase é inspirada em ditado centenário
Várias espécies animais se transformam quando ameaçadas. O camaleão muda de cor. O polvo solta uma tinta escura que funciona como camuflagem. Não é esse o caso do burro. Portanto, a frase, muito usada em todo o Brasil para tratar de uma cor indefinida, não tem explicação no comportamento do bicho. A resposta mais provável para a origem do termo está em um registro feito no começo do século 20 pelo gramático Antônio de Castro Lopes (1827-1901), que documentou o uso popular da construção "corro de burro quando foge". A repetição provocou uma frase que não faz o menor sentido, e que mesmo assim ficou consagrada. JUAN TORRES. (AVENTURAS NA HISTÓRIA - Ed. Abril)
27. “Onde Judas perdeu as botas”
Lenda sobre o apóstolo deu origem à expressão
A Bíblia não faz nenhuma referência às botas de Judas, o apóstolo que, de acordo com os relatos do Novo Testamento, entregou Jesus Cristo aos guardas romanos em troca de 30 moedas de prata - e depois, arrependido, acabou se enforcando.
Mas, de acordo com uma lenda popular, Judas escondeu seus calçados junto com o dinheiro, e esse local nunca foi encontrado. Daí que "onde Judas perdeu as botas" faz referência a um local difícil de ser encontrado. "Muitas vezes, algumas expressões idiomáticas ganham corpo baseadas em crenças da religiosidade popular, sem ter tradição bíblica ou teológica", diz Josias da Costa Júnior, mestre em Ciências da Religião da Universidade Estadual Paulista (Unesp). J.T. (AVENTURAS NA HISTÓRIA - Ed. Abril)
28. “Negócio da China”
Expressão surgiu com as Guerras do Ópio
Não é necessário ter muita imaginação para pensar no potencial de venda de qualquer lojinha em um país com 1,3 bilhão de pessoas. É por isso que, tanto hoje como no passado, os grandes países produtores querem atuar na China. No século 19, esse mercado gigantesco foi assediado pela Inglaterra, que estava no auge da Revolução Industrial e precisava de consumidores para seus produtos.
Só que era difícil ter acesso ao país, que permanecia fechado ao Ocidente. O jeito foi partir para a briga. Nessa época, aconteceram as Guerras do Ópio, em duas etapas (1839-1842 e 1856-1860). Vitoriosos, os ingleses impuseram o monopólio da comercialização do ópio com os chineses e ainda ocuparam a ilha de Hong Kong, só devolvida em 1997. Um negócio da China mesmo. JUAN TORRES. (AVENTURAS NA HISTÓRIA - Ed. Abril)
29. “Uma andorinha só não faz verão”
Frase vem de livro do filósofo Aristóteles
Geralmente, as expressões idiomáticas têm origem popular. Não é este o caso. A primeira menção conhecida ao ditado está no livro Ética a Nicômano, de Aristóteles (384-322 a.C.). Na obra, o filósofo grego escreve que "uma andorinha só não faz primavera", no sentido de que um indivíduo não deve ser julgado por um a.t° isolado.
A escolha da andorinha não é casual. Na busca por calor, essas aves sempre voam juntas, em grupos de até 200 mil animais. As maiores aglomerações de andorinhas são vistas nas Américas. Em outubro, quando começa a esfriar no norte, elas percorrem 8 mil quilômetros até a América do Sul, de onde voltam em abril. J.T. (AVENTURAS NA HISTÓRIA - Ed. Abril)
30. “Cair nos braços de Morfeu”
Frase é inspirada no filho do deus grego do sono
De acordo com a mitologia da Grécia antiga, Morfeu era um dos mil filhos de Hipno, o deus do sono. Assim como o pai, era dotado de grandes asas, que o transportavam em poucos instantes, e silenciosamente, aos pontos mais remotos do planeta.
O nome Morfeu quer dizer "a forma" e representa o dom desse deus: viajar ao redor da Terra para assumir feições humanas e, dessa maneira, se apresentar aos adormecidos durante os seus sonhos. É por isso que se costuma dizer, há vários séculos e nas mais diversas línguas: quem cai nos braços de Morfeu faz um sono tranquilo e reconfortante, como se realmente estivesse na companhia dessa divindade. ÉRICA GEORGINO. (AVENTURAS NA HISTÓRIA - Ed. Abril)
31. “A preço de banana”
Portugueses criaram a expressão no Brasil
Usamos a frase "a preço de banana" quando encontramos um artigo com preço baixo, mas tão baixo, que nem dá vontade de pechinchar. Essa expressão remonta ao descobrimento do Brasil: ao chegar aqui, os portugueses encontraram bananeiras produzindo naturalmente, sem que fosse necessário plantá-Ias.
Durante a colonização, era comum encontrar a fruta em propriedades agrícolas e quintais, pelo simples motivo de que as bananeiras são plantas de fácil cultivo em climas quentes e úmidos. A abundância fez com que a fruta não atingisse altos valores comerciais, e assim a banana virou sinônimo de produto barato. E.G. (AVENTURAS NA HISTÓRIA - Ed. Abril)
32. “Sair à francesa”
A França detesta a expressão portuguesa
Quando alguém vai embora de fininho, dizemos que "saiu à francesa". O único consenso a respeito da origem da expressão é que ela já era recorrente em Portugal no fim do século 18. Décadas depois, os especialistas decidiram que a frase era uma derivação da palavra "franquia", um imposto sobre exportação cujo pagamento agilizava a saída dos portos.
Uma segunda tese diz que a frase surgiu na época em que a língua francesa era muito pouco conhecida em Portugal. Por isso, dava no mesmo deixar uma reunião sem se despedir ou dizendo "adieu". Os franceses é que não gostaram nada da frase. Para eles, "sair à francesa" virou "sair à inglesa". Isso é que é política de boa vizinhança! LÍVIA LOMBARDO. (AVENTURAS NA HISTÓRIA - Ed. Abril)
33. “Cavalo paraguaio”
Frase usada no futebol teve origem no turfe
Quem é fã de futebol provavelmente já chamou de "cavalo paraguaio" um time que começa um campeonato vencendo as partidas, mas perde desempenho ao longo dos jogos. A expressão nasceu no turfe, que utilizava a frase com o mesmo sentido. Ao longo do tempo, ela se transferiu para o mundo da bola.
Mas por que paraguaio? A nacionalidade dada aos pobres cavalos e times de futebol que decepcionam a torcida vem do fato de nós, brasileiros, atribuirmos uma péssima fama aos produtos vindos do Paraguai. Seriam sempre objetos falsificados, que parecem funcionar bem no começo, mas logo apresentam problemas. L.L. (AVENTURAS NA HISTÓRIA - Ed. Abril)
34. “Bode expiatório”
Antigos rituais judaicos inspiraram a expressão
Atualmente, chama-se "bode expiatório" uma pessoa inocente sobre quem recai a culpa de algum acontecimento ou calamidade. A origem dessa expressão está registrada na Bíblia (mais precisamente no livro Levítico, capítulo 16) e remete a um antigo ritual da tradição judaica denominá-lo "Dia da Expiação". Funcionava assim: os sacerdotes levavam ao templo de Jerusalém dois bodes. Por sorteio, escolhia-se um deles para ser degolado e queimado em sacrifício ao Senhor, o outro animal recebia todos os pecados cometidos pela comunidade. O sacerdote colocava a mão sobre a cabeça do bicho e confessava as faltas das pessoas. Logo depois, o bode era abandonado ao relento no deserto. Com isso, o povo de Israel ficava purificado. LÍVIA LOMBARDO. (AVENTURAS NA HISTÓRIA - Ed. Abril)
35. “Chorar as pitangas”
Frase é versão brasileira de um provérbio português
Desde suas origens, essa expressão tem o sentido de "queixar-se", "lamuriar-se". Ela surgiu no Brasil como uma adaptação, influenciada pelos povos indígenas, de uma frase portuguesa muito usada entre os lusitanos: "chorar lágrimas de sangue".
Na língua tupi, a palavra "pitanga" significa "vermelho". Assim, chorar as pitangas seria o mesmo que verter muitas lágrimas, até os olhos ficarem avermelhados. De acordo com o folc1orista Luís da Câmara Cascudo, em seu livro Locuções Tradicionais do Brasil, "a imagem associada impôs-se: 'chorar pitanga' pelo lusitano 'chorar lágrimas de sangue', na sugestão da cor". L.L. (AVENTURAS NA HISTÓRIA - Ed. Abril)
36. “Na rua da amargura”
PALAVRAS QUE TÊM ORIGEM NA AGONIA, NÃO SÓ QUANDO RELACIONADAS À MORTE
Estar na "rua da amargura" é padecer de grande sofrimento, enfrentar dissabores na vida. A expressão alude à caminhada de Cristo, coroado de espinhos e vergado por pesada cruz, desde o Pretório de Pilatos - onde foi condenado - até o alto do Calvário, onde foi crucificado. Calvário, Calvaria em latim, é Golgota aramaico. Em grego, é Kraniou Topos, a colina ou platô onde havia uma pilha de crânios - ou o acidente geográfico parecido com um crânio; calva é o crânio, como você sabe.
Esse tenebroso percurso, reverenciado pela Igreja como Via Sacra, possui 14 estações, cada uma descrevendo uma cena da Paixão que deve merecer contrita meditação do fiel católico.
Truculentos soldados romanos açoitando Cristo, a terna presença de Maria, o socorro de Simão Cireneu e o alívio dado por Maria Madalena.
Na linguagem comum, e mal comparando com tamanho padecimento, também nós, pobres humanos, conhecemos momentos,de aflição e so mos obrigados a cumprir trajeto áspero e doloroso. O lenitivo, nessas jornadas, é recordar o antigo ditado de que, as sim como não há bem que não se acabe, não há mal que sempre dure. Márcio Cotrim. (LÍNGUA PORTUGUESA – Ed. SEGMENTO )
37. “Enfiar o pé na jaca”
EXPRESSÃO POPULAR GANHA CONTORNOS PITORESCOS NA PESQUISA POR SUA ORIGEM
Quem enfia o pé numa jaca vai ter dificuldade em romper a casca da fruta. Se conseguir e chegar à polpa, pode saboreá-Ia, como muita gente faz, livrando-se dos caroços em cada gomo. Mas, realmente, não é a melhor maneira de comer jaca, há outras mais Civilizadas...
Essa rude opção alimentar, porém, nada tem a ver com a expressão enfiar o pé na laca. A história seria bem outra.
Antigamente, os tropeiros paravam nas vendinhas do caminho para molhar a garganta com uma pinga. Quando se excediam e enchiam a cara, já bebuns, na hora de pegar o cavalo para ir embora às vezes acontecia, ao subir no animal e jogar a perna esquerda para montá-Io, errar e pisar no jacá - o cesto que levava as mercadorias - e, não raro, esborrachar-se de cara no chão.
Daí teria nascido a expressão: quando alguém bebia demais, dizia-se que enfiara o pé no jacá - no jacá! Jaca, a fruta, não tem nada com isso, nem que a novela da Globo quisesse enquanto esteve no ar... Márcio Cotrim. (LÍNGUA PORTUGUESA – Ed. SEGMENTO )
38. “Torcer o pepino”
Provérbio chegou ao Brasil com os portugueses
O provérbio "É de pequeno que se torce o pepino" é usado para transmitir a ideia de que, quanto mais cedo se ensina, melhores são os resultados, de que é na infância que se educa. Trata-se de um provérbio antigo, que chegou ao Brasil, provavelmente antes de 1600, trazido pelos portugueses. Os lusitanos, porém, preferiam a variação "De pequenino, se torce o pé ao pepino".
Como o pepino era raríssimo em Portugal nesse período, tudo indica que o provérbio tenha se originado na França. De acordo com o escritor Luís da Câmara Cascudo, no livro Locuções Tradicionais no Brasil, pepino também podia significar, para os franceses, sentimentos como a paixão e os caprichos amorosos. L. L. (AVENTURAS NA HISTÓRIA - Ed. Abril)
39. “Onde a porca torce o rabo”
Camões já utilizava essa expressão em 1556
Usada para se referir a uma situação difícil, cuja solução exige habilidade, a expressão "Onde a porca torce o rabo" tem como explicação mais provável o costume antigo de torcer o rabo dos porcos quando eles incomodavam com seus guinchos. Esperava-se que, assim, eles se calassem. Esses momentos de silêncio foram associados, então, a momentos de tensão, os quais acabam exigindo concentração.
O certo é que essa expressão já era popular em Portugal em meados de 1500: Podemos encontrá-Ia no Disparates da Índia, de Luís de Camões, escrito por volta de 1556:
"Na paz mostram coração'; Na guerra mostram as costas;! Porque aqui torce a porca o rabo". L. L. (AVENTURAS NA HISTÓRIA - Ed. Abril)
40. “Memória de elefante”
Inteligência do animal deu origem à expressão
Empregada para elogiar quem tem facilidade de se lembrar de acontecimentos, a expressão tem a ver com a capacidade do animal de reconhecer rotas e outros elefantes mesmo quando separados por décadas. Seguindo essa versão, uma frase do escritor Hector Saki, de 1910, ajudou a popularizar a citação: "Mulheres e elefantes nunca esquecem uma ofensa". Nascido em Burma, ele era familiarizado com o animal. O filme No Caminho dos Elefantes, de 1954, mostra a história de uma mansão construída no Ceilão, na rota que esses animais faziam para beber água. Embora tivessem sido guiados por outros caminhos, eles sempre refaziam o original. CAMILA STAHELIN. (AVENTURAS NA HISTÓRIA - Ed. Abril)
41. “Presente de grego”
Cavalo de Troia motivou o surgimento da frase
O termo, usado quando se recebe algo indesejável, tem ligação com a lendária Guerra de Troia. Os gregos, fingindo abandonar o conflito, deixam um cavalo de madeira nas muralhas de Troia, que acaba levado para a cidade pelos moradores. À noite, os soldados escondidos no cavalo derrotam os troianos. Ao narrar a guerra, Virgílio escreveu, no século 1 a.C.: "Temo os gregos até quando trazem presentes". No Brasil, uma das mais antigas referências é de Machado de Assis, em 1880: "Certo é que os diamantes corrompiam-me um pouco a felicidade; mas não é menos certo que uma dama bonita pode muito bem amar os gregos e os seus presentes", C. S. (AVENTURAS NA HISTÓRIA - Ed. Abril
Quanto mais vontade de vencer, melhor o termo é usado para caracterizar pessoas que são destemidas, amam desafios e encaram os obstáculos com uma gana incondicional de superá-Ios. De acordo com Luís da Câmara Cascudo em Locuções Tradicionais do Brasil, um dos primeiros brasileiros notórios a ostentar o atributo foi dom Pedro I - em Portugal, dom João lI. A origem da expressão também chegou ao país vinda de terras portuguesas. "Tanto valia ser godo e neto dos antigos conquistadores como ter os olhos abrasados", escreveu o autor João Ribeiro. A diferença é que em Portugal o termo era usado em sinal de fidalguia. No Brasil, no entanto, ele denuncia homens audaciosos e corajosos. CAROLINA SILVA. (AVENTURAS NA HISTÓRIA - Ed. Abril)
2. “Amarrar o bode”
Depois de preso, o bicho fica arisco e perigoso
Quando dizemos que alguém amarrou o bode é porque a pessoa está de cara amarrada, mal-humorada, ranzinza e muito irritada. A origem da expressão deriva do próprio comportamento do animal que dá nome à expressão. Normalmente criados em liberdade perambulando pelo pasto, quando amarrados, os bodes se tornam impacientes e rebeldes e dão início a um verdadeiro berreiro. A expressão é usada, então, para indicar a insatisfação de alguém perante determinada situação. Mas o termo pode ainda ser usado para indicar o fim da liberdade (amorosa), no momento em que um casal resolve assumir um relacionamento sério. C. S. (AVENTURAS NA HISTÓRIA - Ed. Abril)
3. “Sangria desatada”
No século 16, era sangue para todo lado
Ainda antes de Hipócrates, durante o século 5 a.C., os médicos tinham o costume de sangrar o paciente para expelir os agentes da doença que o acometia. Mas, às vezes, a prática saía pela culatra e o doente embalava num sangramento que podia o levar à morte. Essa hemorragia, também conhecida como fleborrexis, ainda era praticada no século 16. "É verdade que há pouco roguei em uma carta que não sangrasse mais!", escreveu a madre Maria Bautista à priora de Valladolid, na Espanha. Esse sangramento descontrolado exige cuidados rápidos e eficientes. Assim, quando dizemos que alguma coisa não é uma "sangria desatada", estamos querendo dizer que ela não precisa ser resolvida com urgência desmedida. JOANA SANTOS. (AVENTURAS NA HISTÓRIA - Ed. Abril)
4. “Mundos e fundos”
Expressão surgiu das navegações espanholas
Quando se diz que alguém prometeu "mundos e fundos", é porque essa pessoa fez promessas infundadas ou exageradas. A origem da expressão remonta às navegações espanholas. Segundo uma antiga promessa que rogava "O Céu pediu estrelas/ O peixe pediu fundura", os aventureiros tinham uma impressão abissal do mar. Para eles, a noção de mundo e da fundura do oceano era algo recorrente e trivial no dia a dia - daí o termo com os dois exageros. Reafirma sobre mundo, o escritor José Alcântara: "Boca do mundo é uma expressão típica da multidão anônima". J. S. (AVENTURAS NA HISTÓRIA - Ed. Abril)
5. “Gato por lebre”
Até Camões caía nesse tipo de golpe
Levar gato por lebre é ser enganado, levar algo sem valor acreditando ser bem mais caro. A expressão teve origem em Portugal, onde o "churrasquinho de gato" era bem mais apreciado do que por aqui. Os lusitanos gostavam tanto da carne do pobre bichano que, no século 19, a caçada aos gatos para fins culinários virou moda entre os estudantes de Coimbra.
Como a carne do felino era mais barata, algumas estalagens de Portugal e da Espanha serviam gato como se fosse lebre. Era uma prática tão comum que Luís de Camões, no Auto dos Enfatriões, escreveu: "Fantasia de donzela / não há quem como eu as quebre / porque certo cuidam elas / que com palavrinhas belas / nos vendem gato por lebre." LíVIA LOMBARDO. (AVENTURAS NA HISTÓRIA - Ed. Abril)
6. “Preto no branco”
Expressão teve origem em outra, mais antiga
Colocar o preto no branco é registrar, por escrito, uma promessa ou acordo para que depois não se corra o risco de ficar o dito pelo não dito. De acordo com o folclorista brasileiro Luís da Câmara Cascudo, essa expressão teria surgido no Brasil do século 19 como substituta para uma outra, bem mais antiga, datada da segunda metade do século 9: cum cornu et cum alvende. Cornu significava tinteiro e alvende era o alvará, o decreto. Assim, a frase em latim faz referência a um decreto ou documento escrito e assinado. Na versão posterior e abrasileirada da expressão, preto significaria a tinta e branco, o papel. L.L. (AVENTURAS NA HISTÓRIA - Ed. Abril)
7. “Ir para a cucuia”
Cemitério é uma das origens da expressão
Quando alguma coisa termina mal, dizemos que "foi para a cucuia". Existem duas versões diferentes para explicar a origem desta expressão. A mais aceita refere-se ao antigo cemitério da Cacuia, localizado na Ilha do Governador, no Rio de Janeiro. O local foi inaugurado em janeiro de 1904 e, desde então, "ir para a Cacuia" tornou-se sinônimo de "bater as botas". Aos poucos, no entanto, a expressão foi se generalizando e passou-se a utilizá-Ia também para se referir a outras situações com finais nada felizes.
A outra explicação para o ditado vem do tupi. Na língua indígena, kui significa cair, ir para a decadência. A duplicação de kui teria resultado em kukui, que, por sua vez, deu em cucuia. LÍVIA LOMBARDO. (AVENTURAS NA HISTÓRIA - Ed. Abril)
8. “Torcer a orelha”
Frase teve origem com a deusa da memória
"Torcer a orelha" é o mesmo que arrepender-se, lastimar-se por não ter feito algo que poderia trazer bons resultados. A origem da expressão remota a Mnemosine, a deusa da memória. Segundo a mitologia, ela era a responsável por impedir o esquecimento das pessoas - e a orelha era o órgão dedicado a essa deusa grega. Assim, torcer as orelhas era uma forma de estimular a memória e garantir que erros cometidos não fossem esquecidos. O gesto acabou virando um ato de autopunição. A expressão foi registrada pela primeira vez em 1533, na obra Romagem de Agravados, de Gil Vicente: "Nunca o nosso agravo fora, / Nem eu torcera a orelha”. L.L. (AVENTURAS NA HISTÓRIA - Ed. Abril)
9. “Dar uma banana”
Gesto vulgar reflete desabafo ou ofensa
O ato de erguer o punho direito cerrado com força, apontando o cotovelo de um jeito meio brusco, tem sido cada vez mais preterido em favor dos pesados palavrões usados no dia a dia. Acredita-se que a expressão "dar uma banana" não só surgiu depois, como foi inspirada no gesto ofensivo e vulgar. O acréscimo da fruta (com conotação fálica), no entanto, aconteceu apenas em território brasileiro. Em Portugal, sua terra natal, o gesto é acompanhado de diferentes expressões: "fazer as armas de santo Antônio", "manguito" ou "dar manguito" - no país europeu, a referência às armas da Ordem Terceira de São Francisco, em que figuravam dois braços cruzados, tem a mesma intenção de xingamento. EDUARDO LUCENA. (AVENTURAS NA HISTÓRIA - Ed. Abril)
10. “Do arco da velha”
Origem da expressão está ligada ao arco-íris
Usada para designar histórias inacreditáveis, fora do comum, absurdas ou muito antigas e em desuso, a expressão tem origem nas páginas do Antigo Testamento. O termo se refere ao arco-íris que surgiu no céu após o grande dilúvio contado pela Bíblia. O arco de sete cores simbolizava a aliança entre Deus e os homens, representados por Noé. Mas, crítica a um acontecimento fantasioso ou distante da realidade, a alcunha foi criada também com base em ilustrações medievais que mostravam velhas senhoras (possivelmente bruxas) ao lado de arco-íris. O termo velha surge, então, como uma tradução das forças adversárias da normalidade, que aparecem ligadas à bruxaria e aos malefícios à fecundidade vegetal e animal. E. L. (AVENTURAS NA HISTÓRIA - Ed. Abril)
11. “Fazer de gato-sapato”
Expressão pode ter surgido de uma brincadeira
Quando alguém é tratado com desprezo, dizemos que a pessoa foi feita de gato-sapato. A origem mais provável para a alcunha está em um jogo antigo conhecido como gato-sapato. Na brincadeira, uma criança de olhos vendados tinha de agarrar um colega. Enquanto tentava, outras crianças batiam nela com sapatos. Daí a expressão "fazer de gato-sapato".
Já o escritor Marcelo Duarte aponta outra possível origem para a expressão. Segundo ele, tudo poderia ter começado numa época em que era moda abreviar palavras. Sapato, que se escrevia com "ç", era reduzido para "çato". Dependendo da letra de quem escrevia ou da atenção de quem lia, "çato" poderia ser facilmente confundido com "gato". LÌVIA LOMBARDO. (AVENTURAS NA HISTÓRIA - Ed. Abril)
12. “Engolir sapo”
Só brasileiros "engolem" o anfíbio
A expressão engolir sapo, usada quando somos obrigados a tolerar coisas desagradáveis sem podermos responder, é um regionalismo típico do Brasil. Mas por que engolir sapo e não cobra, borboleta ou jacaré? De acordo com Luís da Câmara Cascudo, em Dicionário do Folclore Brasileiro, o sapo é indispensável nas bruxarias. Acreditava-se ainda que existia uma pedra na cabeça dos anfíbios eficaz nos sortilégios. Ou seja, além de gosmento, os bichos eram associados às forças ocultas.
Há também um episódio bíblico que conta que Deus castigou um faraó egípcio enviando um enxame de rãs, que invadiram casas e fornos. L.L. (AVENTURAS NA HISTÓRIA - Ed. Abril)
13. “Perder as estribeiras”
Expressão surgiu nos jogos de cavalaria
Quando uma pessoa se descontrola ou fica momentaneamente desatinada, dizemos que ela "perdeu as estribeiras". A origem dessa expressão está nos jogos europeus de cavalaria dos séculos 15 a 17. Literalmente, perder as estribeiras significava ficar sem contato com os estribos, aros que pendem de cada lado da sela do cavalo e são utilizados como ponto de apoio para o pé do cavaleiro.
Nas antigas corridas de argolinhas, torneios em que os cavaleiros a galope precisam atingir com a ponta de uma lança as argolas penduradas em fios, perder as estribeiras desclassificava automaticamente os cavaleiros do páreo. Já nas corridas de cavalos sertanejas do Brasil, quem cometesse esse erro era zombado e tinha que pagar a bebida dos companheiros como castigo. LÍVIA LOMBARDO. (AVENTURAS NA HISTÓRIA - Ed. Abril)
14. “Da pá virada”
Era assim que se falava de uma pessoa desocupada
Atualmente, a expressão "da pá virada" pode ser usada com vários significados bem diferentes. Ela serve, por exemplo, para qualificar uma criança travessa e inquieta. Também se fala assim de pessoas de má índole e que são criadoras de casos. Além disso, a frase ainda pode servir para elogiar indivíduos corajosos e competentes.
Em sua origem, porém, essa frase tinha um único significado. Uma pá de pedreiro virada, voltada para o solo, é um instrumento inútil, sem nenhuma serventia. Assim, a construção verbal era utilizada para designar indivíduos vadios, sem ocupação, que não trabalhavam e, da mesma maneira que uma pá virada, não serviam para nada. De acordo com o historiador Luís da Câmara Cascudo (1898-1986), a expressão é brasileira, e provavelmente surgiu no século 19. L.L. (AVENTURAS NA HISTÓRIA - Ed. Abril)
15.“Quebrar o galho”
Duas histórias explicam a origem da expressão
Quando alguém nos ajuda a resolver um problema, dizemos que essa pessoa nos "quebrou um galho". Existem duas versões diferentes para explicar a origem desse regionalismo tão usado no Brasil. Um dos significados da palavra galho é "conjunto de riachos que se reúnem para formar um rio". Assim, para os viajantes, "quebrar um galho" significa abrir um caminho em um afluente de rio para desembocar de forma mais rápida no rio principal.
A segunda versão está ligada a Exu Quebra-Galho, entidade da umbanda que, acredita-se, exerce forte domínio sobre as mulheres. Exu é procurado por muitos homens para "quebrar galhos" amorosos com trabalhos de amarração. LÌVIA LOMBARDO. (AVENTURAS NA HISTÓRIA - Ed. Abril)
16. “De ara que”
Insulto está ligado a bebida alcoólica árabe
Uma coisa "de araque" é sem valor ou de mentira. A origem desse insulto está em uma bebida chamada "arak", trazida ao Brasil por imigrantes árabes de origem não-muçulmana. Trata-se de um licor de alto teor alcoólico, que, puro, pode chegar a 80% de álcool. Em geral, ele é diluído em água.
Por ser muito forte, o drinque é capaz de provocar grandes bebedeiras em pessoas não acostumadas. AIcoolizadas, elas começam a falar besteiras. Daí o surgimento da expressão pejorativa "de araque" para se referir a algo que é tão desacreditado quanto uma pessoa de porre. L.L. (AVENTURAS NA HISTÓRIA - Ed. Abril)
17. “ Olha o passarinho”
Ave na gaiola deixava criançada imóvel na hora da foto
Quando a fotografia foi inventada, a impressão da imagem no filme não se dava rapidinho como hoje. Ver a foto numa telinha digital segundos após ela ser tirada, podendo apagá-Ia e fazer de novo se alguém piscou, tampouco passava pela cabeça dos fotógrafos. Por isso posar era um processo bastante lento.
Na metade do século 19, os fotografados tinham de permanecer parados por até 15 minutos a fim de que sua imagem fosse impressa dentro da máquina. E fazer as crianças ficarem imóveis por tanto tempo era um verdadeiro desafio. Por isso, gaiolas com pássaros ficavam penduradas atrás dos fotógrafos e chamavam a atenção dos pequenos, tornando mais fácil a brincadeira. Assim, a expressão "olha o passarinho" ficou conhecida como a frase dita pelo fotógrafo na hora da pose. A.L. (AVENTURAS NA HISTÓRIA - Ed. Abril)
18. “As paredes têm ouvidos”
Expressão se originou de um antigo provérbio persa
Tanto ocidentais quanto orientais concordam com a expressão que alerta para os perigos de sermos escutados sem saber. O dito existe, nessa mesma forma, em línguas como alemão, francês e chinês. Sua origem remonta a um antigo provérbio persa que dizia: "As paredes têm ratos, e ratos têm ouvidos".
Um dos primeiros registros de provérbio semelhante em inglês aparece no clássico medieval The Canterbury Tales, escrito por Geoffrey Saucer entre 1387 e 1400. Saucer descreve algo como "aquele campo tinha olhos, e a madeira tinha ouvidos" em um dos contos.
A expressão ganhou um sentido quase literal, que pode ser testemunhado até hoje em castelos medievais e, principalmente, palácios renascentistas. Muitos deles - como o Palácio dos Doges, em Veneza, Itália escondem dutos e aberturas pelas paredes, construídas na época para possibilitar a audição, em outras salas, de encontros políticos a portas fechadas. ADRIANA LUI. (AVENTURAS NA HISTÓRIA - Ed. Abril)
19. “Dar uma canja”
Iniciais do Clube dos Amigos do Jazz originaram o dito
Nos anos 60, o Clube dos Amigos do Jazz, entidade brasileira formada por fãs do gênero, era conhecido pela sigla Canja. Um dos costumes dos membros do clube era deixar seus instrumentos à disposição. Assim, os freqüentadores do local podiam se aventurar em apresentações de improviso. De "tocar no Canja” para "dar uma canja" foi um pulo - e hoje todo músico que participa, de graça, de uma apresentação não planejada está "dando uma canja.
Corre entre músicos outra história para explicar a expressão: ela teria vindo da famosa distribuição de sopa feita aos mais pobres aqui no Brasil. Assim como o prato era distribuído gratuitamente, os artistas que não recebiam para subir ao palco estavam "dando uma canja”. A.L. (AVENTURAS NA HISTÓRIA - Ed. Abril)
20. " Fazer o diabo a quatro”
Dizemos que fulano "fez o diabo a quatro" numa festa, por exemplo, quando queremos dizer que ele fez algo inacreditável ou uma grande bagunça. De acordo com Reinaldo Pimenta, autor do livro A Casa da Mãe Joana, que explica a origem de palavras e expressões, esta nasceu na França (o original é fàire le diable à quatre) durante a Idade Média.
Nas peças de teatro daquela época, um dos personagens que sempre aparecia era o diabo. Quando o autor das representações queria fazer algum barulho, criava papéis para um ou dois diabos. Quando a idéia era causar espanto realmente, fazer uma verdadeira bagunça na peça, escalava quatro diabos. "Daí o 'diabo a quatro' significar coisas espantosas, grande confusão", escreve Pimenta. CLÁUDIA DE CASTRO LIMA. (AVENTURAS NA HISTÓRIA - Ed. Abril)
21. “Estar na pindaíba”
Liso, na pior, sem um tostão furado. Estar ou andar na pindaíba é não ter dinheiro nem para õ essencial, passar por uma fase de grande penúria financeira.
Há pelo menos três explicações para a origem da frase. Uma delas é do lingüista Batista Caetano, autor de Vocabulário. Segundo ele, pindaíba é uma palavra de origem tupi que significa "vara de anzol" (pinda é anzol e iba, vara). Estar na pindaíba era dispor apenas de uma vara para a sobrevivência.
A outra versão, também de origem tupi, é do filólogo João Ribeiro, em A Língua Nacional: pindaíba era uma selva densa de cipós onde, às vezes, os índios ficavam presos - ou seja, em grande dificuldade. A terceira explicação, por fim, é de Nei Lopes, estudioso de línguas africanas. De acordo com ele, a frase se incorporou ao português pela língua quimbundo, falada em Angola. Pindaíba viria de uma junção de mbinda, "miséria", e uaíba, "feia" - e significaria estar na mais completa miséria. BRUNO COSTA. (AVENTURAS NA HISTÓRIA - Ed. Abril)
22. “Vale quanto pesa”
Duas origens são aceitas - uma delas é brasileira
A expressão significa dar valor a algo por meio de seu peso e substância. "Quer dizer que você não está pagando mais do que uma coisa de fato vale, nem um centavo a mais por grama inexistente", afirma Reinaldo Pimenta, autor de A Casa da Mãe Joana, livro que desvenda a origem de expressões.
Há duas origens para ela. Uma remonta a uma lei medieval de povos do norte da Europa, que determinava que o assassino deveria pagar uma quantia em ouro ou prata à família do morto, calculada sobre o peso do falecido. A outra versão é bem brasileira: na época do comércio de escravos, os homens ganhavam valor proporcional à idade e ao peso, características relacionadas à sua força. Por isso, nos mercados de escravos, havia balanças próprias disponíveis para aferir os quilogramas da "mercadoria”. ADRIANA LUI. (AVENTURAS NA HISTÓRIA - Ed. Abril)
23. “ Fazer uma vaquinha”
Expressão está relacionada ao futebol e ao jogo do bicho
O ato de juntar algumas pessoas para coletar um dinheirinho passou a ser conhecido como "fazer uma vaquinha' no século 20 por causa do futebol. Nas décadas de 20 e 30, quase nenhum jogador de futebol ganhava salário - luxo só garantido aos atletas do Vasco da Gama.
Nesses tempos bicudos, muitas vezes a própria torcida reunia-se a fim de arrecadar, entre si, um "prêmio" para agraciar os craques. A grana era paga de acordo com o resultado obtido em campo. Os valores dessas "bolsas" associavam-se aos números do jogo do bicho, loteria criada nos fins do Império. Se arrecadassem 5 mil-réis, por exemplo, chamavam o prêmio de "um cachorro", já que 5 é o número do cachorro no jogo. Dez - mil réis eram "um coelho". Quinze mil-réis, "um jacaré". Vinte mil, "um peru". Vinte e cinco mil, o prêmio máximo, era chamado de "uma vaca". Nascia a expressão "fazer uma vaquinha". A.L. (AVENTURAS NA HISTÓRIA - Ed. Abril)
24. “Rodar a baiana”
Quando alguém ameaça com um "pare com isso ou eu vou rodar a baiana", qual quer pessoa discreta pára na hora ou, pelo menos, toma cuidado. A ameaça, na verdade, consiste em dar um escândalo público.
Diferentemente do que possa parecer, essa expressão não tem sua origem relacionada à Bahia, e sim ao Rio de Janeiro. A região era palco, já no início do século 20, de famosos desfiles dos blocos de Carnaval.
No meio desses blocos, alguns espertinhos tascavam beliscões nas nádegas das moças que desfilavam. Para acabar com o problema, alguns capoeiristas passaram a se fantasiar de baianas, com direito a saia rodada e turbante na cabeça. Assim, ao primeiro sinal de desrespeito, aplicavam um golpe de capoeira. As pessoas que assistiam aos desfiles não entendiam nada: só viam a baiana rodar - e começar toda a confusão.. LÍVIA LOMBARDO. (AVENTURAS NA HISTÓRIA - Ed. Abril)
25. “Cabra da peste”
Empregada para designar um indivíduo bom, confiável e, principalmente, corajoso, essa locução tipicamente nordestina em nada tem a ver com a coitada da fêmea do bode. Cabra, no Nordeste brasileiro, é sinônimo de homem.
Assim, é comum na região expressões como "cabra bom", para se referir a alguém decente, ou "cabra besta", para alguém considerado um orgulhoso sem razão.
Mas por que "da peste"? A razão é que epidemias eram um mal muito comum na região no começo do século 20 e, com a falta de recursos da população, tornavam-se muito perigosas e levavam à morte.
Dessa forma, quando alguém ficava doente, todos se afastavam com medo de serem contaminados pelo "cabra da peste". A expressão acabou, mais tarde, tornando-se sinônimo de alguém que, por sua valentia, causa medo nas pessoas, a ponto de afastá-Ias. LL. (AVENTURAS NA HISTÓRIA - Ed. Abril)
26. “Cor de burro quando foge”
Frase é inspirada em ditado centenário
Várias espécies animais se transformam quando ameaçadas. O camaleão muda de cor. O polvo solta uma tinta escura que funciona como camuflagem. Não é esse o caso do burro. Portanto, a frase, muito usada em todo o Brasil para tratar de uma cor indefinida, não tem explicação no comportamento do bicho. A resposta mais provável para a origem do termo está em um registro feito no começo do século 20 pelo gramático Antônio de Castro Lopes (1827-1901), que documentou o uso popular da construção "corro de burro quando foge". A repetição provocou uma frase que não faz o menor sentido, e que mesmo assim ficou consagrada. JUAN TORRES. (AVENTURAS NA HISTÓRIA - Ed. Abril)
27. “Onde Judas perdeu as botas”
Lenda sobre o apóstolo deu origem à expressão
A Bíblia não faz nenhuma referência às botas de Judas, o apóstolo que, de acordo com os relatos do Novo Testamento, entregou Jesus Cristo aos guardas romanos em troca de 30 moedas de prata - e depois, arrependido, acabou se enforcando.
Mas, de acordo com uma lenda popular, Judas escondeu seus calçados junto com o dinheiro, e esse local nunca foi encontrado. Daí que "onde Judas perdeu as botas" faz referência a um local difícil de ser encontrado. "Muitas vezes, algumas expressões idiomáticas ganham corpo baseadas em crenças da religiosidade popular, sem ter tradição bíblica ou teológica", diz Josias da Costa Júnior, mestre em Ciências da Religião da Universidade Estadual Paulista (Unesp). J.T. (AVENTURAS NA HISTÓRIA - Ed. Abril)
28. “Negócio da China”
Expressão surgiu com as Guerras do Ópio
Não é necessário ter muita imaginação para pensar no potencial de venda de qualquer lojinha em um país com 1,3 bilhão de pessoas. É por isso que, tanto hoje como no passado, os grandes países produtores querem atuar na China. No século 19, esse mercado gigantesco foi assediado pela Inglaterra, que estava no auge da Revolução Industrial e precisava de consumidores para seus produtos.
Só que era difícil ter acesso ao país, que permanecia fechado ao Ocidente. O jeito foi partir para a briga. Nessa época, aconteceram as Guerras do Ópio, em duas etapas (1839-1842 e 1856-1860). Vitoriosos, os ingleses impuseram o monopólio da comercialização do ópio com os chineses e ainda ocuparam a ilha de Hong Kong, só devolvida em 1997. Um negócio da China mesmo. JUAN TORRES. (AVENTURAS NA HISTÓRIA - Ed. Abril)
29. “Uma andorinha só não faz verão”
Frase vem de livro do filósofo Aristóteles
Geralmente, as expressões idiomáticas têm origem popular. Não é este o caso. A primeira menção conhecida ao ditado está no livro Ética a Nicômano, de Aristóteles (384-322 a.C.). Na obra, o filósofo grego escreve que "uma andorinha só não faz primavera", no sentido de que um indivíduo não deve ser julgado por um a.t° isolado.
A escolha da andorinha não é casual. Na busca por calor, essas aves sempre voam juntas, em grupos de até 200 mil animais. As maiores aglomerações de andorinhas são vistas nas Américas. Em outubro, quando começa a esfriar no norte, elas percorrem 8 mil quilômetros até a América do Sul, de onde voltam em abril. J.T. (AVENTURAS NA HISTÓRIA - Ed. Abril)
30. “Cair nos braços de Morfeu”
Frase é inspirada no filho do deus grego do sono
De acordo com a mitologia da Grécia antiga, Morfeu era um dos mil filhos de Hipno, o deus do sono. Assim como o pai, era dotado de grandes asas, que o transportavam em poucos instantes, e silenciosamente, aos pontos mais remotos do planeta.
O nome Morfeu quer dizer "a forma" e representa o dom desse deus: viajar ao redor da Terra para assumir feições humanas e, dessa maneira, se apresentar aos adormecidos durante os seus sonhos. É por isso que se costuma dizer, há vários séculos e nas mais diversas línguas: quem cai nos braços de Morfeu faz um sono tranquilo e reconfortante, como se realmente estivesse na companhia dessa divindade. ÉRICA GEORGINO. (AVENTURAS NA HISTÓRIA - Ed. Abril)
31. “A preço de banana”
Portugueses criaram a expressão no Brasil
Usamos a frase "a preço de banana" quando encontramos um artigo com preço baixo, mas tão baixo, que nem dá vontade de pechinchar. Essa expressão remonta ao descobrimento do Brasil: ao chegar aqui, os portugueses encontraram bananeiras produzindo naturalmente, sem que fosse necessário plantá-Ias.
Durante a colonização, era comum encontrar a fruta em propriedades agrícolas e quintais, pelo simples motivo de que as bananeiras são plantas de fácil cultivo em climas quentes e úmidos. A abundância fez com que a fruta não atingisse altos valores comerciais, e assim a banana virou sinônimo de produto barato. E.G. (AVENTURAS NA HISTÓRIA - Ed. Abril)
32. “Sair à francesa”
A França detesta a expressão portuguesa
Quando alguém vai embora de fininho, dizemos que "saiu à francesa". O único consenso a respeito da origem da expressão é que ela já era recorrente em Portugal no fim do século 18. Décadas depois, os especialistas decidiram que a frase era uma derivação da palavra "franquia", um imposto sobre exportação cujo pagamento agilizava a saída dos portos.
Uma segunda tese diz que a frase surgiu na época em que a língua francesa era muito pouco conhecida em Portugal. Por isso, dava no mesmo deixar uma reunião sem se despedir ou dizendo "adieu". Os franceses é que não gostaram nada da frase. Para eles, "sair à francesa" virou "sair à inglesa". Isso é que é política de boa vizinhança! LÍVIA LOMBARDO. (AVENTURAS NA HISTÓRIA - Ed. Abril)
33. “Cavalo paraguaio”
Frase usada no futebol teve origem no turfe
Quem é fã de futebol provavelmente já chamou de "cavalo paraguaio" um time que começa um campeonato vencendo as partidas, mas perde desempenho ao longo dos jogos. A expressão nasceu no turfe, que utilizava a frase com o mesmo sentido. Ao longo do tempo, ela se transferiu para o mundo da bola.
Mas por que paraguaio? A nacionalidade dada aos pobres cavalos e times de futebol que decepcionam a torcida vem do fato de nós, brasileiros, atribuirmos uma péssima fama aos produtos vindos do Paraguai. Seriam sempre objetos falsificados, que parecem funcionar bem no começo, mas logo apresentam problemas. L.L. (AVENTURAS NA HISTÓRIA - Ed. Abril)
34. “Bode expiatório”
Antigos rituais judaicos inspiraram a expressão
Atualmente, chama-se "bode expiatório" uma pessoa inocente sobre quem recai a culpa de algum acontecimento ou calamidade. A origem dessa expressão está registrada na Bíblia (mais precisamente no livro Levítico, capítulo 16) e remete a um antigo ritual da tradição judaica denominá-lo "Dia da Expiação". Funcionava assim: os sacerdotes levavam ao templo de Jerusalém dois bodes. Por sorteio, escolhia-se um deles para ser degolado e queimado em sacrifício ao Senhor, o outro animal recebia todos os pecados cometidos pela comunidade. O sacerdote colocava a mão sobre a cabeça do bicho e confessava as faltas das pessoas. Logo depois, o bode era abandonado ao relento no deserto. Com isso, o povo de Israel ficava purificado. LÍVIA LOMBARDO. (AVENTURAS NA HISTÓRIA - Ed. Abril)
35. “Chorar as pitangas”
Frase é versão brasileira de um provérbio português
Desde suas origens, essa expressão tem o sentido de "queixar-se", "lamuriar-se". Ela surgiu no Brasil como uma adaptação, influenciada pelos povos indígenas, de uma frase portuguesa muito usada entre os lusitanos: "chorar lágrimas de sangue".
Na língua tupi, a palavra "pitanga" significa "vermelho". Assim, chorar as pitangas seria o mesmo que verter muitas lágrimas, até os olhos ficarem avermelhados. De acordo com o folc1orista Luís da Câmara Cascudo, em seu livro Locuções Tradicionais do Brasil, "a imagem associada impôs-se: 'chorar pitanga' pelo lusitano 'chorar lágrimas de sangue', na sugestão da cor". L.L. (AVENTURAS NA HISTÓRIA - Ed. Abril)
36. “Na rua da amargura”
PALAVRAS QUE TÊM ORIGEM NA AGONIA, NÃO SÓ QUANDO RELACIONADAS À MORTE
Estar na "rua da amargura" é padecer de grande sofrimento, enfrentar dissabores na vida. A expressão alude à caminhada de Cristo, coroado de espinhos e vergado por pesada cruz, desde o Pretório de Pilatos - onde foi condenado - até o alto do Calvário, onde foi crucificado. Calvário, Calvaria em latim, é Golgota aramaico. Em grego, é Kraniou Topos, a colina ou platô onde havia uma pilha de crânios - ou o acidente geográfico parecido com um crânio; calva é o crânio, como você sabe.
Esse tenebroso percurso, reverenciado pela Igreja como Via Sacra, possui 14 estações, cada uma descrevendo uma cena da Paixão que deve merecer contrita meditação do fiel católico.
Truculentos soldados romanos açoitando Cristo, a terna presença de Maria, o socorro de Simão Cireneu e o alívio dado por Maria Madalena.
Na linguagem comum, e mal comparando com tamanho padecimento, também nós, pobres humanos, conhecemos momentos,de aflição e so mos obrigados a cumprir trajeto áspero e doloroso. O lenitivo, nessas jornadas, é recordar o antigo ditado de que, as sim como não há bem que não se acabe, não há mal que sempre dure. Márcio Cotrim. (LÍNGUA PORTUGUESA – Ed. SEGMENTO )
37. “Enfiar o pé na jaca”
EXPRESSÃO POPULAR GANHA CONTORNOS PITORESCOS NA PESQUISA POR SUA ORIGEM
Quem enfia o pé numa jaca vai ter dificuldade em romper a casca da fruta. Se conseguir e chegar à polpa, pode saboreá-Ia, como muita gente faz, livrando-se dos caroços em cada gomo. Mas, realmente, não é a melhor maneira de comer jaca, há outras mais Civilizadas...
Essa rude opção alimentar, porém, nada tem a ver com a expressão enfiar o pé na laca. A história seria bem outra.
Antigamente, os tropeiros paravam nas vendinhas do caminho para molhar a garganta com uma pinga. Quando se excediam e enchiam a cara, já bebuns, na hora de pegar o cavalo para ir embora às vezes acontecia, ao subir no animal e jogar a perna esquerda para montá-Io, errar e pisar no jacá - o cesto que levava as mercadorias - e, não raro, esborrachar-se de cara no chão.
Daí teria nascido a expressão: quando alguém bebia demais, dizia-se que enfiara o pé no jacá - no jacá! Jaca, a fruta, não tem nada com isso, nem que a novela da Globo quisesse enquanto esteve no ar... Márcio Cotrim. (LÍNGUA PORTUGUESA – Ed. SEGMENTO )
38. “Torcer o pepino”
Provérbio chegou ao Brasil com os portugueses
O provérbio "É de pequeno que se torce o pepino" é usado para transmitir a ideia de que, quanto mais cedo se ensina, melhores são os resultados, de que é na infância que se educa. Trata-se de um provérbio antigo, que chegou ao Brasil, provavelmente antes de 1600, trazido pelos portugueses. Os lusitanos, porém, preferiam a variação "De pequenino, se torce o pé ao pepino".
Como o pepino era raríssimo em Portugal nesse período, tudo indica que o provérbio tenha se originado na França. De acordo com o escritor Luís da Câmara Cascudo, no livro Locuções Tradicionais no Brasil, pepino também podia significar, para os franceses, sentimentos como a paixão e os caprichos amorosos. L. L. (AVENTURAS NA HISTÓRIA - Ed. Abril)
39. “Onde a porca torce o rabo”
Camões já utilizava essa expressão em 1556
Usada para se referir a uma situação difícil, cuja solução exige habilidade, a expressão "Onde a porca torce o rabo" tem como explicação mais provável o costume antigo de torcer o rabo dos porcos quando eles incomodavam com seus guinchos. Esperava-se que, assim, eles se calassem. Esses momentos de silêncio foram associados, então, a momentos de tensão, os quais acabam exigindo concentração.
O certo é que essa expressão já era popular em Portugal em meados de 1500: Podemos encontrá-Ia no Disparates da Índia, de Luís de Camões, escrito por volta de 1556:
"Na paz mostram coração'; Na guerra mostram as costas;! Porque aqui torce a porca o rabo". L. L. (AVENTURAS NA HISTÓRIA - Ed. Abril)
40. “Memória de elefante”
Inteligência do animal deu origem à expressão
Empregada para elogiar quem tem facilidade de se lembrar de acontecimentos, a expressão tem a ver com a capacidade do animal de reconhecer rotas e outros elefantes mesmo quando separados por décadas. Seguindo essa versão, uma frase do escritor Hector Saki, de 1910, ajudou a popularizar a citação: "Mulheres e elefantes nunca esquecem uma ofensa". Nascido em Burma, ele era familiarizado com o animal. O filme No Caminho dos Elefantes, de 1954, mostra a história de uma mansão construída no Ceilão, na rota que esses animais faziam para beber água. Embora tivessem sido guiados por outros caminhos, eles sempre refaziam o original. CAMILA STAHELIN. (AVENTURAS NA HISTÓRIA - Ed. Abril)
41. “Presente de grego”
Cavalo de Troia motivou o surgimento da frase
O termo, usado quando se recebe algo indesejável, tem ligação com a lendária Guerra de Troia. Os gregos, fingindo abandonar o conflito, deixam um cavalo de madeira nas muralhas de Troia, que acaba levado para a cidade pelos moradores. À noite, os soldados escondidos no cavalo derrotam os troianos. Ao narrar a guerra, Virgílio escreveu, no século 1 a.C.: "Temo os gregos até quando trazem presentes". No Brasil, uma das mais antigas referências é de Machado de Assis, em 1880: "Certo é que os diamantes corrompiam-me um pouco a felicidade; mas não é menos certo que uma dama bonita pode muito bem amar os gregos e os seus presentes", C. S. (AVENTURAS NA HISTÓRIA - Ed. Abril
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